Um mergulho na natureza

20-03-2020

Rise and shine! Mais um dia a madrugar, desta feita para uma excursão ao famoso Cradle Mountain-Lake St Clair National Park.
Nesta fase, a minha rotina matinal incluía pelo menos uma hora agarrada ao WhatsApp, a tentar perceber o que andavam os outros viajantes a fazer. Uma péssima maneira de começar o dia.
Graças a este novo mau hábito, o Tony, o nosso guia e motorista, apanhou-me de iogurte e colher na mão, à porta do hostel. E veio com uma proposta surpreendente: eu podia anular a reserva no momento e devolver-me-iam o dinheiro. É que, tirando eu e uma turista de Hong Kong, os restantes clientes tinham cancelado a sua reserva. Perguntava o Tony: como é que eu preferia proceder?

Mas qual é a dúvida? Claro que quero ir a Cradle Mountain! Foi a decisão mais fácil da semana.
E lá fomos nós, em direcção ao interior da ilha. Parámos num café e já se pedia aos clientes para evitar pagamentos em numerário. A pandemia já era omnipresente.

Em Elizabeth Town, a caminho do Cradle Mountain-Lake St Clair National Park.

A paragem seguinte foi em Sheffield, uma vila que se pôs na rota turística organizando um festival internacional anual de pintura mural. Vários dos edifícios da cidade têm as suas paredes decoradas. Possivelmente devido à falta de paredes para pintar, a vila criou o Mural Park, onde ficam em exibição alguns dos murais de edições anteriores. Muito giro!

A seguir, o esperado Cradle Mountain-Lake St Clair National Park. E o frio! Agradeci a mim própria por ter comprado agasalhos extra e ter vindo em modo cebola (às camadas) e chouriço (bem apertada).

Que ar puro! Começámos pela curta Rainforest Walk, junto ao centro de interpretação. Mais uma vez, fiquei impressionada com os tons de verde desta ilha. E adorei o cheiro a terra e plantas molhadas.

A seguir, o ponto alto do dia: uma caminhada longa junto à Cradle Mountain. E lá veio o Tony com mais uma proposta exótica: como estava a chuviscar, podíamos caminhar durante cerca de 15-20 minutos e passar o resto do tempo numa prova de whiskeys.
Então vinha eu de Portugal para os confins da Tasmânia para me enfiar numa prova de whiskeys? Nem pensar!
Felizmente, a Edith e eu estávamos no mesmo comprimento de onda e lá fomos nós percorrer o lindíssimo Dove Lake Circuit. E que bem que soube estar no meio da natureza, a apreciar a imponência das montanhas, a ver o lago de vários pontos, com as suas águas férreas e a passar por zonas com vegetação tão densa que não deixava passar a chuva. Foi tão bom e bonito! E se assim foi num dia nublado, nem imagino como teria sido com sol.

No final da caminhada, o Tony estava à nossa espera e deu-nos os parabéns por termos optado pela caminhada em detrimento da prova de whiskeys. Pelos vistos, apesar de esta excursão ser promovida como sendo de aventura, parece que a maioria dos clientes opta pela versão whiskey. Mistérios da vida!

Seguimos para um abrigo de montanha, o Waldheim day shelter, para almoçar. Tivemos direito a aquecedor e que bem que soube!

Ronny Creek visto a partir do Waldheim day shelter. Lindo!

De estômago reconfortado, visitámos o acolhedor Waldheim chalet, contruído pelo casal Kate e Gustav Weindorfer, no início do século XX. Foram estes exploradores os visionários promotores da criação deste parque nacional. O chalé está rodeado por uma bonita floresta húmida, que inclui a Weindorfers Forest Walk.

Já no caminho de saída do parque vi, pela primeira vez, wombats selvagens! São mesmo fofos. E, como bons wombats, viraram-nos o “rabo” – lindos meninos!

Wombat selvagem, ainda de perfil, na zona de Ronny Creek.

No regresso a Launceston, parámos numa fábrica de lacticínios e provei umas bolinhas de queijo desidratado muito crocantes e saborosas. Que petisco original!

Na fábrica de lacticínios.

Cheguei a Launceston animada, mas já a recear a enxurrada de mensagens que teria à minha espera no WhatsApp. Entretanto, já havia um grupo só para portugueses na Austrália.
Cometi o erro de ligar o wifi junto à porta do hostel e já nem subi ao quarto. Alapei num banco exterior nas duas horas seguintes.

Esta overdose de informação estava a ser demais, pelo que saí para espairecer e tentar tomar uma decisão.
Sentia-me segura e confortável na Tasmânia. Hobart e, mais ainda, Launceston eram tão tranquilas que eu nem tinha de me preocupar com a questão do distanciamento físico. E a Tasmânia ainda só tinha 10 pessoas infectadas. Mas a Austrália é uma federação e cada estado tem autonomia na gestão das suas fronteiras. Para todos os efeitos, eu estava numa ilha longe de tudo, a partir da qual nem sequer tinha acesso a voos internacionais (excepto voos ocasionais para a Antártida, o que não era útil nesta situação). No limite, se deixasse de haver ligações aéreas ou marítimas ao “continente”, eu poderia ficar retida neste estado por tempo indeterminado.
Assim, fazia sentido manter o plano de regressar ao “continente” e apanhar o voo que tinha reservado para o dia seguinte com destino a Melbourne.

Mas será que fazia sentido continuar a viagem? Eu já queria visitar a Austrália há tantos anos! A primeira vez que tinha pensado tirar um ano sabático tinha sido há dez anos, quando ainda era estudante do ensino superior. Nessa altura, optei por não interromper os estudos, mas fui mantendo sempre esta ideia na mente. E, nos anos seguintes, a minha vida profissional foi-se encadeando de um modo que me levou a pensar que não faria sentido suspender a minha carreira. Até àquele momento, em Julho de 2019, quando senti que ou era agora ou nunca.
E porque é que eu não viajei mais cedo? Porque é que adiei esta viagem ao ponto de só ter partido em Fevereiro? Estava desolada.

Mas resolvi deixar-me de dramas. Tinha de começar a tomar decisões. Uma coisa parecia certa: amanhã regressava ao “continente”. E depois, logo se veria.

Passeando polo centro de Launceston ao final do dia.

Publicado por Halterofilista

Fiz um ano sabático e ocupei parte do meu tempo livre com uma viagem à Austrália.

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