13-03-2020 – Sexta-feira 13! Bu!
A Tasmânia é conhecida pelo seu tempo instável. Será o equivalente australiano dos nossos Açores. Assim, a um dia de Verão, seguiu-se um dia de Outono em Hobart.
Uma das atracções mais conhecidas e controversas de Hobart é o MONA, o Museum of Old and New Art, que será o maior museu privado do hemisfério sul. Tinham-me dito que ou se adora ou se detesta este museu.
O MONA pertence e foi fundado por David Walsh, uma personagem peculiar – terá feito fortuna com jogo a dinheiro e parece ter um sentido de humor apurado.
Visitar este museu é toda uma experiência! Que começa nos folhetos, com um design impecável e cheios de humor. Durante esta viagem, tentei contrariar o meu hábito de guardar folhetos turísticos, para diminuir o peso da bagagem e ser mais amiga do ambiente. Mas tive de abrir uma excepção para um dos folheto do MONA.
Depois, como o MONA está localizado 11 km a norte do centro da cidade, o próprio museu disponibiliza um serviço de ferry. Mais uma vez, esta viagem é uma experiência em si mesma. Os catamarãs têm zona VIP (mas eu fui para a zona dos pobres), um café com óptimo aspecto, paredes pintadas com graffiti e uma decoração peculiar – sentei-me no piso superior, nuns bancos em forma de ovelha! Mais ou menos confortáveis, mas seguramente originais.
Ovelhas-banco Vaca decorativa Graffiti no acesso ao piso superior A marina de Hobart vista do barco

A viagem de barco ao longo do rio Derwent é bonita e o MONA está muito bem integrado na paisagem. O átrio do museu é luminoso, mas a visita começa numa sala subterrânea a meia-luz, que tem um bar chiquíssimo. A primeira provocação, ainda no bar, é um misto de slot machine e máquina de vending. O jogador / comprador insere o dinheiro e terá acesso a uma cerveja. Mas não tem direito a escolher qual. Estão à venda sete tipos de cerveja da cervejaria do museu (*) e uma oitava cerveja corrente que está à temperatura ambiente!
(*) Sim, o complexo do MONA inclui, para além de um museu, uma série de restaurantes, bares, um hotel, uma adega e uma cervejaria artesanal!


Neste museu, as obras não têm legendas. O museu coloca à disposição dos visitantes telemóveis com geolocalizador, que indicam os nomes das obras mais próximas. Clicando no nome ou fotografia da obra, tem-se acesso a mais informação sobre a mesma. Estes telemóveis têm nome próprio, tal como muitas outras coisas neste museu: são os “O”.
Pode-se classificar cada obra nas categorias “love”ou “hate“. Parece que o plano original era retirar da exposição as obras mais apreciadas pelos visitantes! Mas, pelos vistos, essas também costumavam ser as mais detestadas, pelo que este plano foi abandonado.
Quem queira saber mais sobre a obra em questão, deve clicar em “art wank“. Wank é calão inglês; acho que o ícone é auto-explicativo.
Inicialmente, não estava a conseguir aproveitar plenamente a experiência. Talvez pelo facto de a maioria das salas estar na penumbra, estarem muitas pessoas no museu (todos os turistas estavam a fugir da chuva e eu já andava em modo pandemia a fugir de ajuntamentos), haver obras em todo o lado e ter sentido que o museu, pelas suas áreas enormes, pé direito altíssimo e organização labiríntica, era esmagador.
Mas, ao longo do dia, adaptei-me a este museu tão peculiar e gostei muito da experiência.
Gostei de várias obras, por motivos diferentes: algumas por serem interessantes, outras intrigantes e outras a roçar o repulsivo. Vejam por vocês.
Mulher gigante Interior de uma gruta encantada Quadro em crochet Fat car, de Irwin Reynolds – é um Porsche Carrera! White House, de Ai Weiwei
Pés de salto alto Órgãos humanos em cerâmica

Esta instalação é um aquário, no interior do qual estão uma série de artefactos, o que me intrigou. A água não degradará os artefactos?
(Sei que a foto não ficou grande coisa. Os quadros que se vêem não pertencem a esta instalação; estavam afixados numa parede atrás do aquário.)
Recorri ao meu fiel “O” que me contou que, ao longo da sua carreira de coleccionador de arte, David Walsh comprou muitos gatos por lebre. Esta instalação é uma homenagem a quem o enganou e a estes seus erros de avaliação.
Adorei a capacidade este magnata de troçar de si próprio de modo tão público!
Quando, mais acima, falei em obras de arte a roçar o repulsivo, referia-me a esta fotografia. À primeira vista, parece uma bonita flor, certo?

Errado! É caso para dizer: Ceci n’est pas une fleur.
Querem saber quais os materiais usados para compor esta “flor”? Cascas de caranguejo e… prepúcio de porco! As cascas fazem de pétalas e o prepúcio está no centro. Blerk!
Deixo agora outras fotografias, para retirar dos vossos cérebros a imagem desta “flor”.
Vista de um terraço sobre o luxuoso restaurante Faro A Tasman Bridge, já perto do centro de Hobart
Dizem que se adora ou detesta o MONA. Eu adorei! Apesar do prepúcio de porco.